sábado, 3 de novembro de 2012

Endometriose

A endometriose é uma doença ginecológica benigna na qual células que normalmente recobrem a cavidade uterina, chamadas de células endometriais, são encontradas implantadas em outras localizações. Normalmente, as células do endométrio descamam todos os meses e são eliminadas junto com a menstruação.




A endometriose é comum?

A endometriose acomete aproximadamente uma a cada dez mulheres em idade reprodutiva. A prevalência exata da doença não é conhecida, visto que muitas pacientes têm a doença mas não apresentam sintomas. Frequentemente é diagnosticada em mulheres na faixa dos 25 aos 35 anos de idade e raramente é encontrada em mulheres menopausadas. A endometriose é mais comum em mulheres da raça branca quando comparadas a mulheres da raça afro-americana ou asiática e alguns estudos sugerem que a endometriose é mais comum em mulheres altas e magras (baixo índice de massa corpórea). Além disso, o risco de desenvolver endometriose parece maior nas mulheres que têm a primeira gestação em idades mais avançadas. Estimativas sugerem que aproximadamente 20 a 50% das pacientes que realizam tratamento para infertilidade têm endometriose e que 80% das pacientes com dor pélvica também possam ter a doença.

Qual é a causa da endometriose?

A causa da endometriose é desconhecida. Uma das teorias é que as células endometriais, descamadas da cavidade uterina durante a menstruação, implantem na cavidade pélvica através de um fluxo menstrual retrógrado (fluxo menstrual que flui pelas trompas e atinge a cavidade pélvica e abdominal). A causa da menstruação retrógrada não é totalmente conhecida, porém não pode ser considerada a única justificativa para o desenvolvimento da endometriose. Muitas pacientes têm menstruação retrógrada e não desenvolvem a doença. Isso está relacionado ao fato de que as pacientes com endometriose geralemente apresentam alterações do sistema imunológico, o que altera a habilidade normal do organismo em reconhecer e combater os implantes anormais de endometriose.

Outra teoria é que algumas células da cavidade pélvica sejam primitivas (células pluripotentes) e tenham a capacidade de se diferenciar em outros tipos de células, como as células endometriais (teoria da metaplasia celômica). 

Além disso, aparentemente algumas células endometriais podem ser transferidas via corrente sanguínea ou via sistema linfático. Essa parece a melhor justificativa para a ocorrência de endometrioses no cérebro e no pulmão. A transmissão de células endometriais durante a realização de cirurgias ginecológicas também pode ser responsável pela ocorrência de implantes de endometriose em cicatrizes de cirurgias.

Onde a endometriose ocorre?

Os implantes de tecido endometrial ocorrem com mais frequência nos seguintes locais:

• Peritônio
• Ovários
• Trompas de Falópio
• Na superfície do útero, bexiga e intestino
• Fundo de saco vaginal (o espaço atrás do útero)
• Raramente fora da pelve feminina, como no fígado, em cicatrizes de cirurgias, e até no cérebro ou nos pulmões.

Quais são os sinais e os sintomas da doença?

A endometriose é a maior responsável por quadros de dor pélvica além de ser uma comum indicação de cirurgias laparoscópicas e histerectomias no Brasil. Os implantes de endometriose respondem as mudanças dos níveis de estrogênio, um hormônio feminino. Os implantes podem crescer e sangrar como o endométrio faz normalmente durante o ciclo menstrual. Isso pode irritar as estruturas ao redor dos implantes causando dor, principalmente durante o período menstrual. Se a endometriose está presente no intestino pode ocasionar dor durante a movimentação intestinal. Se está presente na bexiga, a endometriose pode ocasionar dor durante a micção. Sangramento menstrual intenso é outro sintoma nos quadros de endometriose. Além disso, esses implantes podem formar aderências (cicatrizes) entre os órgãos da pelve.

Qual a ligação entre infertilidade e endometriose?

A endometriose pode dificultar a ocorrência da gravidez. De fato, 30 a 50% das mulheres com infertilidade têm endometriose. A endometriose pode interferir de diversas maneiras: alterando a anatomia da pelve, causando aderência entre os órgãos (p.ex. trompas uterinas), causando inflamação das estruturas pélvicas, alterando o sistema imunológico, causando mudanças no ambiente dos óvulos e em sua qualidade, etc. Em casos graves de endometriose, as trompas de Falópio podem estar bloqueadas por aderências.

Como é feito o diagnóstico de endometriose?

A única maneira de saber com certeza o diagnóstico de endometriose é através de um procedimento cirúrgico chamado laparoscopia. No momento da cirurgia, o médico deve avaliar a quantidade, localização e profundidade dos implantes para classificar a endometriose. Essa classificação determina se a endometriose é mínima (grau 1), leve (grau 2), moderada (grau 3), ou grave (grau 4). Essa classificação se relaciona com as chances de sucesso de gravidez. Mulheres com endometriose avançada (grau 4), com aderências entre os órgãos, trompas de falópio obstruídas, e acometimento ovariano, apresentam maior dificuldade para engravidar e podem necessitar de tratamentos de reprodução assistida no futuro. Às vezes, uma pequena quantidade de tecido é removido durante o processo. Isso é chamado de biópsia. Em algumas pacientes, a endometriose pode crescer dentro do ovário e formar um cisto (endometrioma). Geralmente esse cisto pode ser visibilizado no ultrassom, diferente dos outros implantes de endometriose.

Como é feito o tratamento da endometriose?

O tratamento da endometriose depende da extensão e dos sintomas da doença e do desejo de futura gravidez. A endometriose pode ser tratada com medicação, cirurgia, ou ambos. Quando a dor é a principal queixa, sem melhora após introdução do tratamento medicamentoso, existe indicação para o tratamento cirúrgico com ressecção dos implantes de endometriose. No caso de infertilidade, o tratamento medicamento geralmente não melhora a taxa de gravidez e, muitas vezes, técnicas de reprodução assistida serão exigidas.

Que medicamentos são utilizados ​​para tratar a endometriose?

A endometriose necessita do estímulo hormonal estrogênico para crescer. Medicamentos hormonais, incluindo pílulas anticoncepcionais, medicamentos a base de progesterona (p.ex. DIU de progesterona), e agonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas, diminuem ou bloqueiam os níveis de estrogênio e podem ser efetivos em promover a melhora dos sintomas da endometriose.

O tratamento cirúrgico cura a endometriose?

Após a cirurgia, a maioria das mulheres referem alívio da dor. No entanto, cerca de 40-80% das pacientes operadas apresentam recidiva dos sintomas dolorosos dentro dos primeiros 2 anos de acompanhamento. O uso do tratamento medicamentoso após a cirurgia pode ajudar a prolongar esse período livre da dor. 

Síndrome dos Ovários Policísticos


A Síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma doença hormonal que afeta 5 a 10% das mulheres em idade reprodutiva. O diagnóstico da síndrome é feito quando uma mulher apresenta duas das três seguintes características:
1) Ausência de ciclos ovulatórios regulares (mensais)
2) Ovários com característica policística ao ultrassom
3) Aumento dos níveis hormonais de androgênios (hormônios masculinos) ou características físicas androgênicas (aumento de pelos em regiões tipicamente masculinas)
Devido a presença de diferentes formas da SOP, o diagnóstico é baseado no conjunto de dados clínicos, ultrassonográficos e laboratoriais.
Pacientes com SOP podem apresentar ciclos menstruais esporádicos, hirsutismo (aumento da pilificação), acne, e/ou infertilidade. A maioria das pacientes com SOP possui ovários de tamanho aumentado com múltiplos cistos em sua periferia, visíveis ao ultrassom.

Quais os riscos da síndrome dos ovários policísticos?
A ausência de ovulação nas pacientes com SOP resulta em uma exposição contínua do endométrio (camada interna do útero) ao hormônio estrogênio. Isso pode causar espessamento endometrial com possível sangramento uterino anormal. Também aumenta o risco de futuras alterações pré-malignas (hiperplasias) ou malignas (câncer) do endométrio. Além disso, a síndrome pluri-metabólica é mais comum em pacientes com SOP. Essa síndrome é caracterizada por obesidade abdominal, alterações dos níveis de colesterol, pressão alta, resistência insulínica e diabetes mellitus. Cada um desses distúrbios contribui para o aumento do risco de doenças cardiovasculares.
Mais de 50% das mulheres com SOP são obesas. A dieta e o exercício físico resultam em perda de peso e melhoram a frequência de ciclos ovulatórios, aumentando assim a chance de gravidez, diminuem o risco de diabetes, e diminuem os níveis de androgênios em muitas pacientes com SOP.
Qual é o tratamento da infertilidade em pacientes com síndrome dos ovários policísticos?
A ovulação pode ser induzida com o uso de medicamentos indutores da ovulação (p. ex. Citrato de Clomifeno, um indutor da ovulação administrado de forma oral). Se a ovulação não for atingida com medicamentos administrados por via oral, as gonadotrofinas (medicamentos injetáveis) podem ser utilizadas. Os riscos associados ao uso de gonadotrofinas em mulheres com SOP são a gravidez múltipla e a hiperestimulação ovariana. Portanto, essas pacientes devem ser monitorizadas frequentemente e com muito cuidado. A fertilização in-vitro também pode ser utilizada em pacientes com SOP.  
Qual é o tratamento da síndrome dos ovários policísticos em mulheres que não desejam gravidez?  
Tratamentos hormonais são utilizados para corrigir os distúrbios associados com a SOP. Pílulas anticoncepcionais são comumente utilizadas para: reduzir o hirsutismo e a acne, manter os ciclos menstruais regulares, prevenir o câncer do endométrio e prevenir a gravidez. Algumas vezes as pílulas são associadas a outros medicamentos para diminuir a ação androgênica, como a espironolactona, para melhorar o hirsutismo. Tratamentos dermatológicos para acne e diminuição da pilificação também são utilizados.

Tratamentos com medicamentos que aumentam a sensibilidade do corpo à ação da insulina, como a metformina, podem ser utilizadas em pacientes com resistência insulínica ou diabetes e podem melhorar a ovulação (controverso) e diminuir o risco da síndrome pluri-metabólica.   
Geralmente, o tratamento da SOP deve ser individualizado para as necessidades de cada paciente.